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Autor(a):

Teixeira, Clodine Janny

Orientador(a):

Kovacs, Maria Julia

Ano de publicação:

2016

Unidade USP:

Instituto de Psicologia [IP]

Assuntos:

morte; luto (estado emocional); violência; homicídio; jovens; periferia

Palavras-chave do autor:

homicídio;juventude;luto;morte;periferia;violência

Resumo:

A mortalidade na juventude ocorre, em sua maioria, por causas externas, não naturais, de forma violenta. Dentre as causas externas, os homicídios por armas de fogo são responsáveis por aproximadamente metade das mortes. Os Mapas da Violência revelam que, a cada três vítimas fatais de armas de fogo, duas eram jovens com idades entre 15 e 29 anos; 93,9% eram do sexo masculino e dois terços eram negros. As periferias das grandes metrópoles são os locais onde acontece a maioria dos homicídios. Apesar de os índices de violência estarem menores em São Paulo desde 1999, o mesmo padrão de distribuição etária, geográfica, racial e de gênero tem se mantido, e a proporção de mortes em decorrência de intervenção policial subiu de 5% em 2000 para 21% em 2014. São chamadas de mortes escancaradas as mortes violentas que ocorrem nas ruas sem chance de proteção ou preparo. Essas mortes são divulgadas pela mídia como mercadoria para atrair audiência. O objetivo deste trabalho é investigar, por meio de estudo de caso, as repercussões físicas, afetivas, econômicas, sociais, existenciais e religiosas da morte de um jovem negro morador de uma das periferias da cidade de São Paulo na vida dos sobreviventes. Os sobreviventes, ou vítimas ocultas, são as vítimas que não são reveladas numericamente pelas estatísticas, mas que têm seu cotidiano modificado pela violência extrema. Foram entrevistadas vítimas primárias sobreviventes e testemunhas do crime; vítimas secundárias pessoas que possuíam algum vínculo familiar, afetivo ou profissional com o morto; e uma vítima terciária que teve contato com a notícia do falecimento pela mídia. Como procedimentos, foram realizadas: observação participante, pesquisa documental e entrevistas abertas. A abordagem qualitativa foi adotada para coleta, compreensão e análise do material obtido. As repercussões físicas encontradas foram sequelas dos tiros, perda de peso, alteração do sono e crises de choro. Do ponto de vista afetivo, observou-se luto complicado, sentimentos de tristeza, angústia, medo, insegurança, revolta e impotência, além de sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. No âmbito social, houve transformações no padrão de circulação e de convivência no bairro por causa da tristeza e do medo. Do ponto de vista econômico, as repercussões observadas foram a diminuição da renda com a perda do provedor e a impossibilidade de trabalhar pela necessidade constante de fuga por ser testemunha ou por medo de sair de casa no período noturno. No âmbito existencial e religioso, há o questionamento do sentido da vida e da morte, a fé traz conforto diante das perdas e do sofrimento, mas é, por vezes, questionada diante da tragédia. Foram relatados os preconceitos e as discriminações sofridos por moradores das periferias, que se expressam na maneira como se relacionam com o sistema de segurança público. A mídia é apontada como responsável pelo aumento da sensação de medo na população, gerando reações de isolamento, proteção e apoio a medidas repressivas. As principais ações identificadas para diminuir a mortalidade de jovens são a implantação de políticas públicas direcionadas aos bairros periféricos com a valorização da vida de seus moradores e mudanças no sistema de segurança pública, incluindo o policiamento comunitário e a justiça restaurativa.

ABNT:

TEIXEIRA, Clodine Janny; KOVACS, Maria Julia. Vítimas ocultas das mortes escancaradas: as repercussões da morte violenta de um jovem na vida dos sobreviventes. 2016.Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-07022017-155026/ >.