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Nível de ensino:

Pós-Graduação

Unidade USP:

Faculdade de Educação [FE]

Área de concentração:

Cultura, Filosofia e História da Educação

Departamento:

Faculdade de Educação

Docente(s) responsável(is):

Roseli Fischmann

Objetivos:

Discutir o conceito de tolerância, sobretudo em suas relações com a educação e a escola. -Analisar as relações entre intolerância e totalitarismo, tolerância e democracia. Analisar alguns aspectos contemporâneos da temática, tal como presentes na vida cultural, bem como recentes desenvolvimentos no campo jurídico nacional e internacional, ressaltando repercussões para a educação, sobretudo no caso brasileiro e latino-americano.

Justificativa:

A temática da tolerância tem ocupado a agenda científica das Ciências Sociais e Humanas, sobretudo a partir da década de 1990. Proposto pela ONU como Ano Internacional da Tolerância, em celebração ao Cinqüentenário da Organização, o ano de 1995 foi precedido de encontros regionais preparatórios e seguido de reuniões científicas que estabeleceram redes regionais, uma delas sediadas na USP, na Pró-Reitoria de Pós-Graduação, dirigida especificamente ao debate das relações entre Ciência, Cientistas e Tolerância, com coordenação desde 1994 da docente responsável pela disciplina. Recentemente, a partir de 2004-2005, e em continuidade às conclusões da Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação e Xenofobia realizada em 2001 em Durban, África do Sul, a UNESCO decidiu implantar, em nível internacional, uma estratégia de Coalizão de Cidades contra o Racismo, a Discriminação e a Xenofobia, que se beneficia do que foi acumulado na implementação da estratégia ligada às redes em prol da tolerância, na década anterior. Assim, ainda é relevante debater o conceito de tolerância, tão frequentemente mal-interpretado, em particular pelo que Bobbio denominou "as más razões da tolerância". Usado, com freqüência, para significar a aceitação incondicional e indiscutível de quaisquer procedimentos, o pré-conceito sobrepõe-se às possibilidades do conceito, tornando necessário o aprofundamento do debate e a busca da precisão. Mais ainda, as múltiplas manifestações contemporâneas de intolerância têm ganhado força. São manifestações que vão do racismo revigorado, ainda que combatido, às gangues urbanas que queimam ou espancam até a morte índios ("porque pensaram que fosse um mendigo", como os jovens que assassinaram o índio Galdino, em Brasília) mendigos (como os atentados havidos em São Paulo em 2005), homossexuais (como ocorrido na Praça da República com o treinador de cães Edson Néri, que andava de mãos dadas com o namorado), entre outros atentados, como os perpetrados cotidianamente de forma insidiosa sobre a população empobrecida, ou nas favelas e de negros e negras. A mentalidade intolerante denuncia, pois, uma sociedade injusta e desigual, enquanto se proclama democraticamente justa e igualitária. Nesse sentido, o julgamento do caso Ellwanger, e a condenação do revisionista do Holocausto por crime de racismo, pelo STF, representa importante avanço e material a ser explorado como influência dos debates históricos, nacionais e internacionais, bem como da relevância da contribuição das ciências humanas para o sistema judiciário no país. Por isso, a educação em todos os níveis tem um papel a desempenhar nesse quadro, seja na educação formal, que se pratica na escola, seja na educação informal, permanente, praticada por movimentos sociais ou pela mídia, seja na proposta de pesquisas, na universidade. Qual seria esse papel? Quais seriam os limites e as possibilidades da escola? A situação mundial e a que se tem, no Brasil, demonstram a urgência social da temática. Em um curso de pós-graduação, propor o debate aos mestrandos e doutorandos é contribuição ao aprofundamento do tema, pela construção de conhecimento que se abre como processo, pelo convite a que o tema seja incluído como reflexão interdisciplinar nos trabalhos individuais. Além disso, é possibilidade de uma reflexão sobre temas da atualidade, que revelam diferentes aspectos da questão da tolerância, indagando sobre as responsabilidades dos pesquisadores/educadores.

Programa:

1. O conceito de tolerância na contemporaneidade 2. Tolerância e intolerância como mentalidade e como atitude: relações com a democracia e com a educação 2.1. Norberto Bobbio e a tolerância 2.2. Hannah Arendt e intolerância: nacionalismo, imperialismo, totalitarismo 2.3. Intolerância, terror, violência e educação 3. Declaração Mundial da Tolerância da UNESCO: relações com a educação 4. Ciência, cientistas e tolerância: responsabilidades éticas do cientista como educador 5. O caso Ellwanger: de que se tratou e estudo de algumas de suas repercussões sociais, acadêmicas e educacionais 6. Análise de temas atuais e relações com a educação: ciclos de vida, povos indígenas, racismo, minorias, mídia.