Ensino e pesquisa

Resumo:

Os mitos devolvem aos homens os seus próprios conflitos; como metáforas, eles "desempenham sua função de falar" aos "níveis profundos do ser humano". Com o correr do tempo, essas figuras de linguagem podem ir perdendo a capacidade de serem absorvidas, mas os artistas, "de acordo com suas disciplinas e artes", fazem-nas emergir "do contexto contemporâneo da experiência". Partindo dessas premissas, foram feitas e em seguida confrontadas as análises de "Legado" e "Canto órfico", de Carlos Drummond de Andrade; "Orfeu da Conceição: Uma tragédia carioca, de Vinícius de Moraes e os dois filmes baseados nela: Orfeu negro, de Marcel Camus e Orfeu do Carnaval, de Carlos Diegues. Num primeiro momento, diferenciando-se do Orfeu de Drummond - que se define e define o que vê, mais próximo, talvez, do caráter apolíneo do mito - o Orfeu de Vinícius promove, ou deseja promover, a dissolução dionisíaca das diferenças, sugerida pela figura do cantor do morro: Orfeu da Conceição; mas, aproximando-nos mais um pouco dessas retomadas, podemos observar a expressão "dionisíaca" do primeiro autor, assim como a expressão "apolínea" do segundo, invertendo a primeira impressão; conservando-se, em ambas, tanto o sentimento ético frente ao mundo indiferente aos mitos, como a crença no valor da poesia e do canto artísticos. A presença de Orfeu nos filmes de Marcel Camus e de Carlos Diegues, que, como na peça, atualizam o mito em uma favela, na mesma década da estréia da peça, e quarenta anos depois dela, respectivamente) confirma a capacidade do canto e da arte de transformar a "agonia em elegia", como fizeram Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes.