Tese (Doutorado)
Os dilemas de se estar no fio da navalha: a experiência do Banco Palmas e suas práticas cotidianas
Autor(a):
Braz, Juliana de Oliveira Barros
Orientador(a):
Mello, Sylvia Leser de
Ano de publicação:
2014
Unidade USP:
Instituto de Psicologia [IP]
Assuntos:
economia solidária; finanças; democracia; organização social; psicologia social
Palavras-chave do autor:
cotidiano;cultura democrática;economia solidária;finanças;organização popular;psicologia social
Resumo:
Em 1998, após vinte anos de conquistas de infraestrutura para o bairro do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, Ceará, a pobreza e a geração de trabalho e renda apresentavam-se como os grandes desafios a serem enfrentados por seus moradores. Na busca por alternativas locais, estruturou-se uma estratégia de desenvolvimento comunitário que articulou o consumo à produção local. O consumo foi estimulado, inicialmente, por meio de um cartão de crédito chamado PalmaCard e, mais tarde, pelo uso da moeda social Palmas. Já a produção, foi incentivada a partir da oferta de crédito produtivo articulada à criação de pontos de comercialização locais como feiras, festivais e uma loja solidária, e ao fomento à formação de empreendimentos coletivos. Nascia, assim, o primeiro banco comunitário do Brasil: o Banco Palmas. As ações propostas pelo banco comunitário, com a formação de redes locais de produção e consumo, e o debate sobre o desenvolvimento do bairro abriram caminhos para a experimentação de valores antagônicos aos pregados pela sociedade atual: ao invés da competição, a afirmação do trabalho associado; do individualismo do empreendimento, a decisão coletiva. Por assumir múltiplas dimensões, o Banco Palmas se torna uma experiência potente para a análise das iniciativas de economia solidária que articulam a dimensão econômica às dimensões social e política. O lugar que essas experiências ocupam na vida cotidiana das pessoas passa pela importância da família na organização das relações sociais e da vida, da cultura clientelista, da referência ainda presente do trabalho assalariado, dos costumes e da cultura popular, do lugar da mulher, da relação com o bairro e a cidade e das políticas sociais dos últimos anos. Este trabalho é, portanto, uma tentativa de compreensão e de articulação entre esses elementos que compõem a trama de nossa dinâmica social, sendo o crédito, o banco comunitário, os serviços financeiros e a moeda social alguns de seus personagens. São diversas pontas e tentativas de ligação entre os elementos trazidos à cena. O Banco Palmas pode ser visto como instituição mediadora na promoção de relações diferenciadas para os moradores do bairro, ampliando o acesso à cidade, a espaços de participação e a novos sistemas simbólicos que permitem a conexão da vida a outras redes de sentidos e significados. Ancorada nos escritos de José de Souza Martins e, de alguma forma, nas ideias de Henri Lefebvre as contradições do vivido puderam se tornar material rico de análise. Algumas das principais reflexões tratam da articulação do tradicional e do moderno na configuração do Banco Palmas, da função do crédito na sustentação das relações dos moradores com o banco e da busca, a partir das relações de vizinhança e de família, em constituir uma experiência formal que pode basear a criação de uma referência menos privatizada da vida social.
ABNT:
BRAZ, Juliana de Oliveira Barros; MELLO, Sylvia Leser de. Os dilemas de se estar no fio da navalha: a experiência do Banco Palmas e suas práticas cotidianas. 2014.Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-28112014-163453/ >.