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Nível de ensino:

Pós-Graduação

Unidade USP:

Faculdade de Educação [FE]

Área de concentração:

Cultura, Filosofia e História da Educação

Departamento:

Faculdade de Educação

Docente(s) responsável(is):

Monica Guimaraes Teixeira do Amaral

Objetivos:

A intenção é retomar alguns conceitos-chave sustentados por autores, como Nietzsche, Freud e Adorno, para analisar a natureza transgressiva e crítica das culturas juvenis urbanas cultivadas na periferia. Uma criticidade que se traduz por meio da irreverência verborrágica e rítmica (como entre os rappers do movimento hip-hop), ou mesmo pelo gingar alegre do corpo erótico, cujas letras fazem apelo a uma sensualidade transgressiva e emancipatória, que se dirigem, em particular, às mulheres da periferia das metrópoles (como alguns grupos de funk). Uma irreverência que traz à cena pública, novos conceitos do campo erótico e da vida social e comunitária, a partir dos quais acreditamos poder repensar nossas raízes culturais e o modo como se constroem os laços sociais na metrópole. Sustentamos ainda que a estética inovadora do rap e do funk contribuem para a formação crítica e emancipatória da juventude pobre das periferias de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, além de provocar um debate mais amplo no seio da sociedade sobre a diversidade étnica e cultural.

Justificativa:

O curso pretende oferecer elementos de natureza filosófica e psicanalítica para uma abordagem multifacetada de algumas estéticas juvenis urbanas que têm mobilizado os jovens nos âmbitos escolar, social e político. A ideia do curso é trazer elementos para um debate aprofundado sobre o tema e com isso contribuir para se pensar, sob novos ângulos, não apenas o ensino da história e cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio (previstas na lei 10.639), mas contribuir para a construção de uma educação voltada para a diversidade.

Programa:

O curso visa propiciar reflexões sobre o significado de expressões estéticas contemporâneas – como o hip-hop e o funk – recorrendo a alguns conceitos-chave sustentados por autores, como Nietzsche, Freud e Adorno, que nos parecem essenciais para por em relevo a natureza transgressiva e crítica de culturas juvenis urbanas cultivadas na periferia de metrópoles brasileiras e de outras partes do mundo. O hip-hop e o funk constituem uma estética irreverente, afirmativa e crítica que sugere um novo cenário para a crise dos limites no mundo globalizado, em que a pluralidade da arte juvenil surge como forma de enfrentamento das marcas profundas deixadas por fraturas sociais advindas das diásporas do passado e dos mais recentes fluxos migratórios do pós-colonialismo. E o fazem reatando a antiga concepção ‘policromática’ da arte – presente entre os gregos, assim como nas raízes africanas da música e da dança – ao mesmo tempo em que retomam a força da tradição oral convertendo-a em “atos de linguagem”. Algumas ideias e conceitos-chave sustentados por cada um desses autores nos serão fundamentais para esta leitura, tais como: a crítica à metafísica moderna ocidental e as bases para se pensar o “descentramento da consciência”, segundo Nietzsche e o “inconsciente”, segundo Freud; “visão dionisíaca de mundo”, “estética extrema” e “transvaloração dos valores”, defendidos por Nietzsche; o mal-estar da civilização ocidental, segundo S. Freud e a dialética da civilização ocidental, segundo T.W.Adorno; os efeitos de estranhamento e de ruptura produzidos pelo rap e o funk nas representações construídas socialmente, em particular sobre o jovem negro, pobre e morador da periferia das metrópoles, à luz das idéias de Adorno sobre a Nova Música. Também examinaremos os conteúdos contestatórios dessas culturas juvenis urbanas em conexão com outras expressões de transgressão e de resistência da arte afro-brasileira. Conteúdo Programático: 1. O descentramento do sujeito: de Nietzsche a Freud • A crítica à metafísica moderna ocidental: desmontagem nietzschiana do ideário socrático-platônico e cristão • Como o psicólogo Nietzsche prepara o caminho para a psicanálise: a destituição da unidade e do primado da consciência • Introdução a alguns conceitos-chave da obra freudiana: a idéia de conflito psíquico, as instâncias psíquicas, a noção de inconsciente; • O complexo de Édipo, a lei e o esvaziamento da figura paterna na sociedade atual. 2. A dialética da Civilização ocidental: de Freud a Adorno • O mal-estar da Cultura, de Freud (1930); • O conceito de esclarecimento: Ulisses ou o mito e esclarecimento, segundo Adorno 3. O movimento hip-hop e o funk – novos modos de contestação nas metrópoles • Raízes históricas do hip-hop e o funk: a telescopia histórica, a trituração sonora, o deslocamento simbólico e o jogo em ação • A denúncia e o caráter afirmativo da estética do hip-hop • O caráter dionisíaco e profano do funk • O hip-hop e o funk: arte popular massificada ou arte séria e crítica 4. O rap, a revolução e a educação – do Bronx à Primavera Árabe • O imperialismo colonial e o racismo x pan-africanismo • A ideologia do branqueamento nos séculos XIX e XX no Brasil: um estudo a partir da psicologia social do racismo • arte negra de resistência e transgressão no Brasil: capoeira, repente, embolada, rap e funk • A estética africana e o hip-hop global: conectando marginalidades e promovendo revoluções