Ensino e pesquisa

Resumo:

O lobo-guará têm sido estudado em unidades de conservação, mas poucas pesquisas têm sido conduzidas fora de áreas protegidas. Uma vez que apenas cerca de 2% do Cerrado brasileiro, habitat principal do lobo-guará, está protegido em parques e reservas, verificar o que está acontecendo com a espécie em áreas privadas e degradadas é importante para uma avaliação precisa de sua vulnerabilidade à extinção. Aqui nós investigamos a ecologia trófica de uma população de lobos-guarás que habitam um trecho de 1.610 ha da Serra da Calçada, uma área desprotegida localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, Brasil. A área de estudo está localizada na zona de amortecimento (10 km) de duas unidades de conservação, onde áreas antropizadas (áreas urbanas e estradas) e perturbadas (campos queimados) formam um terço do total da paisagem de estudo. Os principais impactos são as atividades mineradoras, o ecoturismo não regulamentado e a proximidade de estradas. As amostras fecais (n=95) coletadas entre 2006 e 2008 revelaram que o lobo-guará usou com freqüência tanto áreas naturais como impactadas. A dieta foi composta principalmente por pequenos mamíferos (9 espécies, 16,2% dos itens e 92,6 % das fezes) e pela planta Solanum lycocarpum (12,2% dos itens e 89,5% das fezes), de maneira semelhante ao que tem sido encontrado em áreas menos impactadas. Em termos gerais, a diversidade da dieta foi, porém, menor do que o encontrado em outros lugares, provavelmente refletindo a pobreza de recursos base da área de estudo. Estes resultados, juntamente com outras descobertas recentes, mostram a importância das zonas de amortecimento. Os dados também sugerem que o lobo-guará é uma espécie ecologicamente flexível e que pode ser propensa a usar, e talvez até mesmo sobreviver, em áreas perturbadas fora de áreas protegidas.