Tese (Livre Docência)
A trama e a urdidura entre as culturas juvenis e a cultura escolar: a “eróptica” como método de pesquisa e de ruptura de campo
Autor(a):
Amaral, Mônica Guimaraes Teixeira do
Ano de publicação:
2010
Unidade USP:
Faculdade de Educação [FE]
Assuntos:
cultura escolar; hip hop; escola pública; jovens; sociologia urbana
Palavras-chave do autor:
cultura escolar;culturas juvenis;eróptica;estética extrema;hip-hop e funk;ruptura de campo;transvaloração da escola pública
Resumo:
A irreverência e a criticidade de alguns rappers e o gingar alegre do corpo erótico proposto pelo funk, ambos cultivados na periferia das grandes cidades brasileiras, sugerem um novo cenário para as metrópoles do País, em que a pluralidade da arte juvenil surge como forma de enfrentamento das marcas deixadas por fraturas sociais profundas. E o fazem reatando a antiga concepção 'policromática' da arte - presente entre os gregos, assim como nas raízes africanas da música e da dança - ao mesmo tempo em que retomam a força da tradição oral convertendo-a em "atos de linguagem". À estética subversiva do hip-hop, o funk acrescenta o humor, que associado ao lado agressivo e sensual de suas danças, constitui uma crítica social de outra ordem. Somente uma etnografia do olhar que apanhe a dimensão erótica - a "eróptica", segundo Canevacci - e irreverente destas manifestações pode nelas identificar uma estética afirmativa e crítica, como diria Nietzsche, capaz de produzir uma verdadeira reversão dos valores em nossa sociedade. Apoiados em ideias como essas e em alguns conceitos-chave, como a "visão dionisíaca de mundo", "estética extrema" e "transvaloração dos valores", defendidos por Nietzsche, e o "erotismo", como o concebeu Bataille, consideramos que seria importante situar as rupturas - conceitual e de campo - conforme definidas por Herrmann, envolvidas na reconstrução das noções de autoridade e tradição na sociedade contemporânea a partir das tendências apontadas em particular pelo rap e pelo funk. Inspirando-nos, ainda, em autores que procederam à crítica da modernidade, como Adorno e Hannah Arendt, e avançando em direção àqueles que já não acreditavam mais na potência crítica de uma "razão transtornada", considerados autores pós-modernos − tais como Bataille, Bauman, Lipovetsky e Canevacci − procurou-se aprofundar o debate sobre em que medida as manifestações culturais juvenis - a despeito do fato de constituírem um campo, na maior parte das vezes, marginalizado da cultura escolar − revelam o essencial para se repensar diversos pontos nevrálgicos da escola pública hoje, tais como: a autoridade do professor, a relação entre as gerações, as atuações-limite dos adolescentes, a arte e a ciência, as posturas do professor em sala de aula que oscilam entre a sedução, o abandono e o autoritarismo; as tensões entre a formação oficial especializada e utilitarista e uma formação multiculturalista comprometida com a diversidade étnica e cultural; ou ainda, entre o conservadorismo da cultura escolar e a moral transgressora das culturas juvenis, etc. Consideramos, de outro lado, as relações entre o processo de globalização e a precarização do trabalho do professor, bem como suas consequências sobre a formação intelectual e emocional do docente. Fatores que parecem incidir sobre o prestígio social e a autoridade do professor em sala de aula, essenciais ao trabalho de transmissão docente.
ABNT:
AMARAL, Mônica Guimaraes Teixeira do. A trama e a urdidura entre as culturas juvenis e a cultura escolar: a "eróptica" como método de pesquisa e de ruptura de campo. 2010.Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/livredocencia/48/tde-24012017-104155/ >.