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Nível de ensino:

Pós-Graduação

Unidade USP:

Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas [FFLCH]

Área de concentração:

História Social

Departamento:

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Docente(s) responsável(is):

Elizabeth Cancelli, , Wanderson da Silva Chaves

Objetivos:

Investigar os fundamentos e a construção da linguagem política dos anos 1970 que legamos e temos atualizado como parte dos debates atuais sobre a vida democrática e a condição e a cidadania negras

Justificativa:

Este curso pretende aprofundar indagações de pesquisa desenvolvidas para o livro A questão negra: a Fundação Ford e a Guerra Fria (1950-1970), voltando-se para os anos 1970 e à investigação das formas de agendamento político e intelectual que se tornaram as principais responsáveis pela herança particular desta década, ainda decisiva, quando se leva em consideração a colocação de temáticas raciais e negras no debate sobre os ideias de vida democrática. Abordaremos de maneira prospectiva uma certa dinâmica de transformação de projetos. Fundamental na conformação do debate de ideias raciais do pós-guerra no chamado “centro liberal”, a associação da promoção do desenvolvimento econômico à princípios de justiça social sofre uma atualização desde os anos 1970, através, fundamentalmente, de debates sobre direitos humanos e novas gerações de direitos, nas “democracias estabelecidas” e sobre “democratização” e formas de “transição” política, em “regimes autoritários”. Dá-se de maneiras ainda pouco investigadas enquadramento e resposta a alguns eventos determinantes da década. A queda do Poder Negro, o fim da descolonização em África, a emergência da tendência política e intelectual dos novos estudos “afro” e da diáspora africana, bem como a emergência do multiculturalismo, como uma nova arte de governo, serão enfrentadas pela renovação de premissas de trabalho, anteriormente, já características das pretensões “antiautoritárias”, das frentes “anticomunista” e “antitotalitária” da Guerra Fria. A fabricação de novas agendas de “democratização”, “modernização” e de “desenvolvimento”, portanto, renovou-se mantendo como metas, assim, a resistência à ruptura, o trabalho de criação institucional, a proteção de “valores” políticos e, preliminarmente a estas etapas, a formação de elites políticas, técnicas e intelectuais. O curso enveredará por três planos, três horizontes, segundo a nossa avaliação preliminar, contíguos nos anos 1970: a) a proposição da modernização via “desenvolvimento”, um enfrentamento evolutivo, gradual e seguro do “atraso” das sociedades; b) a “guerra cultural” norte-americana, via “promoção” e “proteção” da democracia, como um instrumento da afirmação moral e ideológica de novos padrões de ordem internacional, feita através das propostas de “transição política” que pulularam durante e após os anos 1970, como solução às ditaduras; e c) o esforço de aggiornamento da questão racial e social no Brasil, recolocada, em ajustamento à afirmação dos direitos humanos, através da política norte-americana, em novas bases internacionais e universais, principalmente, via investimentos filantrópicos, diplomáticos e multilaterais. Levaremos em conta, nesse aggiornamento que se centralizou nos Movimentos Negros e na pesquisa e formação intelectual em temas negros e raciais, a proposta de aproximação e convergência de vertentes políticas; entre elas, fundamentalmente, as pan-africanistas, as socialistas e as liberais de esquerda.

Programa:

Programa: 1ª aula: Apresentação do curso 2ª aula: O lugar da questão racial e negra na dinâmica de Guerra Fria e da política no pós-guerra. Primeiro momento: anos 1950 e 1960. Textos-base: CHAVES, Wanderson. A questão negra: a Fundação Ford e a Guerra Fria (1950-1970). Curitiba: Prismas / Appris, 2018. CANCELLI, Elizabeth. Mal-estar e civilização: a democracia e o negro no Brasil. In: CANCELLI, Elizabeth. O Brasil e os outros: o poder das ideias. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2012. 3ª aula: O debate conceitual e filosófico sobre a noção de raça: introduzindo as bases da transformação temática Textos-base: TAGUIEFF, Pierre-André. The Force of Prejudice: on Racism and its Doubles. Translated and edited by Hassan Melehy. Minneapolis, MN: The University of Minnessota Press, 2001. MERLEAU-PONTY, Maurice. A fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015. 4ª aula: Transformações de agenda e de linguagem política na passagem dos anos 1960 e os anos 1970: elementos para uma análise dessa reorientação política. Textos-base: GUILHOT, Nicolas. The Democracy Makers: Human Rights and the Politics of Global Order. New York: Columbia University Press, 2005. 274 p. CANCELLI, Elizabeth. O Brasil em Guerra Fria Cultural: o pós-guerra em releitura. São Paulo: Iluminuras, 2017. 182 p. KOREY, William. Taking on the World’s Repressive Regimes: The Ford Foundation’s International Human Rights Policies and Practices. New York: Palgrave Macmillam, 2007. 314 p. PARMAR, Inderjeet. Foundations of the American Century: The Ford, Carnegie, and Rockefeller Foundations in The Rise of American Power. New York: Columbia University Press, 2012. 5ª aula: Transformações de agenda e de linguagem política sobre a questão racial e negra na passagem dos anos 1960 e os anos 1970: elementos para uma análise dessa orientação política. Textos-base: KUPER, Leo. Racialism and Integration in South African Society. Race: The Journal of the Institute of Race Relations, London, May 1963, v. 4, n. 2. KUPER, Leo. The Heighting of Racial Tension. Race: The Journal of the Institute of Race Relations, London, 1960, v. 2, n. 1. GLAZER, Nathan and MOYNIHAN, Daniel Patrick. Beyond the Melting Pot: The Negroes, Puerto Ricans, Jews, Italians, and Irish of New York City. Cambridge, MA: MIT Press, 1964. GLAZER, Nathan and MOYNIHAN, Daniel Patrick. (eds.). Ethnicity: Theory and Experience. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1975. 6ª aula: Textos-base: A reflexão dos fundamentos do Poder Negro e a proposição da governança liberal pós-direitos civis CRUSE, Harold. The Crisis of the Negro Intellectual: A Historical Analysis of the Failure of Black Leadership. New York: Morrow, 1967. CRUSE, Harold. Rebellion or Revolution? New York: Morrow, 1968. WALLACE, Michele. The Black Macho & the Myth of Superwoman. New York: Dial Press, 1979. 7ª aula: As bases de uma nova organização da esfera pública, do sentido do poder e da concepção de uma vida democrática pós-direitos civis segundo a reflexão liberal Textos-base: DAHL, Robert A. After the Revolution?: Authority in a Good Society. New Haven: Yale University Press, 1970. DAHL, Robert A. Polyarchy: Participation and Opposition. New Haven: Yale University Press, 1971. 8ª aula: As bases de uma nova organização da esfera pública, do sentido do poder e da concepção de uma vida democrática pós-direitos civis segundo o debate dos novos estudos “afro” ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricity: The Theory of Social Change. Chicago: African American Images, 2003 [1980]. PADMORE, George. Pan africanism or communism. New York: Doubleday Anchor, 1972. DIOP, Cheikh Anta. The African Origin of Civilization: Myth or Reality. Chicago: Chicago Review Press, 1989 [1974]. KARENGA, Maulana. Introduction to Black Studies. Los Angeles: University of Sankore Press, 1982. 9ª aula: O debate brasileiro NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2016. NASCIMENTO, Abdias. O negro revoltado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. TRAPP, Rafael Petry. O elefante negro: Eduardo de Oliveira e Oliveira, raça e pensamento social no Brasil (São Paulo, década de 1970). Tese – Programa de Pós-graduação em História, UFF, Niterói, março de 2018. TRAPP, Rafael Petry. Dorothy Porter Wesley e a constituição do campo bibliográfico sobre o negro no Brasil e nos Estados Unidos (1943-78). 2019. Mimeo. 10ª aula: Avaliação oral e fechamento.