Pós-Graduação
Territorialização do Capital: a Autonomização entre Terra, Trabalho e Capital
Nível de ensino:
Pós-Graduação
Unidade USP:
Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas [FFLCH]
Área de concentração:
Geografia Humana
Departamento:
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Docente(s) responsável(is):
Carlos de Almeida Toledo
Objetivos:
O objetivo do curso é apresentar uma leitura do conceito de territorialização do capital a partir de uma abordagem crítica do conceito de território (Raffestin, 1993), que busca revelar, não só o aspecto relacional das práticas territoriais enquanto exercício de poderes, mas a articulação contraditória do processo que mobiliza trabalho por meio de práticas de exploração e violência extra-econômica e econômica (Marx, 1996). A autonomização em processo expressa pela divisão social do trabalho em espacialização vai conferindo o controle legítimo da violência extra-econômica ao Estado que deve juridificar tais relações. Como parte daquela divisão, os trabalhadores que portam os poderes territoriais do Estado nacional são mobilizados pelo dinheiro como assalariados, o que inclui os assalariados do Estado. O resultado de seu trabalho, como garantia do exercício da troca entre cidadãos proprietários, revela sua condição de desdobramento da expropriação que, não só internaliza a metrópole, mas metropoliza seu território, polarizando-o. A metropolização do território, como processo contraditório, refere-se tanto à produção alienada de um espaço urbano de milhões de habitantes, quanto à relação das metrópoles do Estado nacional com seu território enquanto lugares de centralização do poder econômico e extra-econômico. Esta articulação contraditória, perceptível na mobilização do trabalho, aparece como dualismo inerente ao processo de modernização na periferia do capitalismo (Oliveira, 1977). Esta perspectiva permite abordar a necessidade do controle sobre a terra como determinante da possibilidade de existência deste padrão territorial no qual se assenta o Estado nacional. Tais práticas territoriais envolvem, portanto, a mobilização do trabalho, entendida como sua transformação na mercadoria força de trabalho, cujo comando é dirigido pela finalidade fetichista de transformar dinheiro em mais dinheiro. Este dinheiro, que se espacializa em seu curso forçado no território do Estado nacional, passa portanto a ser considerado em sua dimensão de poder em processo, o poder estatal, mas também poder sobre as coisas e o trabalho.
Justificativa:
Os debates sobre o conceito de território informado pelo argumento de Por uma geografia do poder (1993) de Raffestin têm buscado o entendimento conceitual do território estudando-o como complexo relacional. No entanto, o tratamento dado ao trabalho nesta perspectiva é o de uma relação territorial entre outras. O conceito de territorialização do capital proposto no curso dá um sentido particular ao trabalho no processo de territorialização do capital, revelando a transformação no padrão territorial que mobiliza o trabalho, ilustrando esta transformação por uma revisão do debate sobre a formação do Estado nacional brasileiro tendo em vista sua origem colonial. A análise da territorialização do capital, ao problematizar a dinâmica de crise e expansão territorial, dialoga com o conceito de ajuste espacial de Harvey (2005), permitindo compreender as formas distintas das relações de trabalho de metrópole e colônia. A transformação do trabalho em mercadoria altera decisivamente o poder do dinheiro, implicando a mudança no próprio exercício de soberania e afetando a área de circulação juridificada de dinheiro e trabalho, de forma a transformar também a terra em mercadoria. A transformação da terra em mercadoria na territorialização do capital, como mostram os estudos de Oliveira (2007), não elimina a importância da propriedade camponesa da terra no abastecimento da sociedade capitalista mundializada, um momento indispensável de sua reprodução. O processo de territorialização do capital relaciona-se de modo contraditório com a propriedade privada dos meios de produção reproduzindo relações de trabalho não especificamente capitalistas (Martins, 1996). No entanto, o avanço do poder coisificado em mercadoria e dinheiro, paira como coação muda mobilizando o trabalho, forçando o aumento do nível de produtividade e financeirizando as relações de circulação do capital. Sem a pretensão de resolver o debate sobre a territorialização do capital, a disciplina explicita relações de poder e aponta para os momentos contraditórios de tais relações sugerindo a existência de um sentido no processo de territorialização e propondo, desta forma, seus desdobramentos críticos.
Programa:
1. Introdução teórica: 1.1 A abordagem teórica do território em Raffestin e Haesbaert; 1.2 A mobilização do trabalho de Jean Paul de Gaudemar ; 1.3 Mobilidade do trabalho e crítica do trabalho 2. Processo de formação da mobilidade do trabalho no Brasil: 2.1 Deslocamento e tráfico de escravos com sentido de produção de mercadorias para a Europa, mobilidade bandeirante e mobilidade garimpeira. 2.2 A formação de uma mobilidade do trabalho e dinâmicas regionais de mobilização: o trabalho livre e a propriedade da terra. 2.3. Industrialização, metropolização e trabalho assalariado. 3. Crise do trabalho e mobilização geral: manifestações empíricas da crise do trabalho nas “regiões”, metrópoles e suas periferias. 3.1 Aspectos gerais sobre o crédito estatal e a crise do trabalho.